domingo, abril 09, 2006

Os teus pés

Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada purpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouco levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.


Pablo Neruda

2 Comments:

Blogger ana... said...

Neruda... sabe-me sempre tão bem!

1:22 da manhã, abril 10, 2006  
Blogger JN said...

sabe a rumo.
sabe a empatia.
sabe a passado, a presente e a futuro.

sabe sempre a alguém conhecido... embora não saiba a quem.

1:56 da manhã, abril 10, 2006  

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